Bagunça
Estava me incomodando,
então quando cheguei em casa a minha vontade de dormir cumprimentou a cama e
elas logo se despediram. Tentei começar retirando as coisas que impediam a
passagem e percebi que não só o físico estava uma bagunça. Esse
quarto, as roupas, os sentimentos, bagunças dessas que quando tira uma coisa, acha
outra. Hoje por trás dos meus livros descobri coisas que há muito tempo eu
tinha escondido, não lembro por quais motivos mas que devem ser explicados nos
“mapas de caça ao tesouro” que são as anotações em pedaços de papel que existem
em alguns desses livros, coisas que as minhas mãos não se contiveram em
escrever, mas que eu sempre soube que depois não usaria e que agora parecem
estar em outra língua.
Prendo o cabelo, limpo
o rosto, desejando poder morar em uma cidade onde eu possa diferenciar inverno
e verão (onde não seja apenas verão). Primavera seria pedir demais. Olhei alguns CDs que contém as musicas que
um dia foram as minhas favoritas e guardei junto com as palhetas e pequenas
coisas que não uso mais, mas que não consigo
me desfazer porque exercem fortes influências sobre mim.
Decido que preciso lavar esse lugar, enquanto bato o tapete, caem mais
fios do meu cabelo e um pouco da timidez dos que por aqui passaram. Joguei
água ignorando que não havia tirado tudo do chão, como na noite anterior em que
tomei banho com vontade de que aquela água levasse tudo embora. Mas como alguém
que calcula cada quilometro dos muitos que o separam da pessoa desejada, aquela
água parecia calculada para avivar o que eu fingia não ver. Eu olhei e ignorei,
comecei a colocar as coisas no lugar, coisas velhas num lugar limpo, roupas
novas no mesmo corpo e as tarefas acumuladas em cima da mesa.
Enquanto eu escorregava no chão molhado, porque havia lembrado de pegar
o relógio adiantado cinco minutos para não perder o ônibus, já era tarde. Peguei
a bolsa com pressa e como estava aberta caiu um mundo sobre o chão. Juntei tudo
e não pude ignorar que mais uma vez eu não tinha conseguido arrumar quase nada,
que a minha bagunça é uma espécie de predestinação.
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