Referência à liberdade

O que foi aquilo que senti quando percebi que seria a última vez?

Queria que fosse a sensação de dever cumprido, mas era só a pressão de um abraço cheio de saudade.

Mas assovio, te digo e até brinco: “na parede da memória, essa lembrança é um quadro lindo demais.”

Sempre me acostumei fácil a qualquer lugar e a poucas coisas, isso não faz apologia à pobreza, mas sim, referência à liberdade. 

O encanto que vem fácil por lugares e pessoas é o mesmo de uma criança que acredita em mágica e não se importa quando o truque é desfeito, apenas pede: "faz de novo!"

A hora da partida não me incomoda mais, depois de poucos anos é fácil entender que as lembranças, doces ou amargas, dão sabor ao riso sedento do presente.

Mas não digo que isso não tenha um preço. O preço é estar com sono e não conseguir dormir, o preço é a angustia.

Pago com todo prazer pelos risos, cheiros e ruas, nem peço troco quando por muitas vezes, o vazio chega antes mesmo de tudo acabar. Não há preço para as surpresas das pequenas coisas, os verdadeiros milagres.

Quando o coração está alerta demais, lágrimas confusas são capazes se aliviar tudo. Hoje eu queria ter medo, dinheiro e uma passagem pro teu Estado, mas eu só tenho coragem.

Foto: Bruna Diniz