Libanesa

Sabe quando a pessoa começa achar círculos onde é tudo reta?
Pois é, de primeira, o cara achou a amada da vez parecida com uma personagem de um filme qualquer que assistiu quando estava chapado. Na segunda vez que a viu, chamou de libanesa e a sonoridade da palavra a fez se sentir ainda mais sexy. E numa arrancada inédita, ele conseguiu subir no pódio e expor as mãos dadas como uma medalha de ouro, a plateia cheia de expectativa e inveja aplaudiu, e naquela excitação ele chegou em outro hemisfério em segundos, chamou aquilo de paixão.

O círculo perfeito envolvido nos lençóis estampavam olhos verdes que vagavam entre a safadeza e esperteza, combinavam perfeitamente com a boca entreaberta de mulher que bebe devagar, que não mastiga o que deve ser engolido. Foi nessa terra sem mapa que ele gritou “Terra à Vista” com a felicidade de um principiante. Chamou aquilo de loucura. Os círculos de fumaça que envolviam os dois embaçou a visão dele extasiado demais pra perguntar “tem alguém aí?” O estrangeiro foi disposto, caiu no gosto! Nervoso, misturou as línguas. Corajoso, desbravou as matas. Naturalizado, ficou sem sinal e esqueceu de mandar noticias. Chamou aquilo de pressagio. 

Já que ele nunca se importou com quem resolvia seguir o seu caminho, os pensamentos sobre ela chegavam como as notícias do novo governo, eram perturbações que não passavam despercebidas, lombra boa, fascínio, desejo de cercar e dar nome. Respirando o encaixe de cada dia numa música que ele pudesse assoviar quando ela não estivesse mais ali, percebeu que a estrada que estava era feita da mesma areia que estava afundando.

Ainda desequilibrando, levantou e catou tudo, juntou as expressões, gravou a voz, desenhou os gestos, guardou todas as lembrancinhas de uma terra encantada como se como se fosse possível mostrar o que somente pode ser sentido. Como se pudesse ser escondido todas as pequenas coisas que às duas da tarde travam a quinta-feira, ainda que ela não entenda e que pouco a importe como ele banhou no Mediterrâneo sem ter cruzado o Atlântico, se resumiria ou não sentimento forte em aventura, ele guardou pra quem achar, poder dar nome a tudo aquilo, como é necessário de nome as coisas que existem. Hesitou em chamar tudo de ilusão, mas sacudiu a poeira e seguiu em linha reta.


Foto: Fernando Nogueira Costa


Comentários

  1. Não sei se eu gostei mais da música ou se eu gostei mais de alguns fragmentos do texto. Você sempre consegue superar o que eu imagino que você possa escrever. Energia sempre. Parabéns!

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  2. Rufino, o seu cometário me incentiva! Obrigada, energia sempre ;)

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