Depois do agora

Me recuperando, tive que pedir pro cara que me amava ir embora, bem clichê né?
E o outro?
Foi sem me avisar!
Você voltaria pra ele?
Pra qual? Rs às vezes sinto o gosto dele no céu da boca.
E o que tu faz quando isso acontece?
Bebo café! — Respondeu maliciosamente.
Parece que tu ainda gosta muito dele
—Combinamos de nos ver em janeiro...
Como foi?
Não foi, fui internada na data combinada.
Que pena! Tá indo encontrar com ele agora no carnaval?
Não... Fiz planos sozinha.
Ahh, ficou pra Março?
—Sim, ele viria.
Ele analisou o tempo do verbo e insistiu: E em Abril?
É  Meu aniversario! Qualquer coisa que durasse até lá seria presente.
Ele chega quando então?
Não vai chegar, ligou antes de eu ficar doente, me deu uma caneta e pediu pra eu colocar o ponto final.
E você colocou?
Coloquei reticências — respondeu sorrindo, estava gostando de entreter o rapaz. 
E agora o que tu sente Amanda?
Um arrepio.
Por que?
—Porque tudo aconteceu pra eu estar aqui agora.
Quer alguma coisa? — ele perguntou enquanto procurava lanches na bolsa.
Você!
Acabou de me conhecer! —respondeu ele sem desviar a atenção da bolsa—. O que quer fazer?
Amor.
Aqui?
O que tu acha que tem depois daquela curva? perguntou calmamente enquanto o ônibus balançava bastante.
Mais estrada! respondeu obviamente sorrindo.
Não sabemos Vicente, ninguém sabe o que há depois do agora.


Sentiram o impacto da batida. Ela não teve tempo para entender o que estava acontecendo, ficou imóvel, observando inesperadamente  o corpo dele vir em alta velocidade ao seu encontro, o ombro de Vicente bateu no maxilar dela pouco antes do seu rosto deixar marcas na janela do ônibus, no vai em vem violento, caíram entrelaçados  no chão, inconscientes.  

Foto: Dallila Moares 




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