Segundo andar

Que eu perca meu dinheiro, trabalho e até os amigos
Mas não a minha memória
Que me exponham ao ridículo mais uma vez
Ou maltratem a minha pele
Desde que eu não perca a minha memória
Já que começaram a pensar,
Então levem!
Levem essas poucas coisas
Elas começaram a pesar
Levem minhas roupas e minha voz
Só assim não incomodarei mais com a minha memória
E se minhas condições não forem aceitas
Levem a minha memória também!
Mostrem-me que posso perdê-la
Espalhem no chão as coisas que vi
As músicas que cantei
E os olhos que amei
Lavem a calçada da minha vida
E escorram o que escrevi
Sequem a minha memória pra que eu possa recomeçar
E quando falharem e eu envelhecer
Lembrarei que o único lugar propriamente
Em que moraram foi na minha memória
Já que eu sempre enfeitei o meu segundo andar.

Foto: Túlio Tsuji

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