Capítulo 1. Aplausos para a primeira atração da noite: meu pai!


Meu pai foi artista de circo e eu adoro isso. Não terminou o ensino médio mas sempre trouxe pra casa livros fantásticos. Me mostrou os clássicos do Rock´n´Roll e MPB. Até porque, era eu quem tinha que mudar o disco, a fita e depois o cd enquanto eu pegava mais uma cerveja para ele trabalhar no quintal. Ouvi tudo de Raul e, Pink Floyd se tornou a trilha sonora da minha vida. Meu pai me ensinou a andar de bicicleta e eu tenho esses dias bem vivos na memória, logo ali, na rua detrás. Me colocou pra pedalar no centro da cidade ainda pequena, na frente, e disse "vai". Eu fui. Deve ser por isso que eu não tenho medo de nada. Foi uma das melhores coisas que ele fez comigo. Uma vez, ainda no circo, dormiu na cadeia por causa de uma diambazinha. Mas dava muita fome. Saiu. Viajou o país a pé e de carona. E viu Raul tocar. Nossas conversas ainda são as melhores ainda que não mais corriqueiras. Ele é a única pessoa que respeito de verdade, os outros, eu só ouço. Ele cozinha bem, já foi padeiro. Hoje é pedreiro. Me contou que não imaginava, que pela vida que teve, um dia morar numa casa, com dois filhos que não dão trabalho. Mas eu não contei que também não imaginava, anos atrás, que eu encheria minha boca pra dizer que hoje moro com meu pai e meu irmão. Temos longos debates sobre história das religiões enquanto ele tenta ser evangélico. Mas sempre acabamos crendo numa força maior que ajeita as coisas, mesmo que devagar. Eu te amo pai, ainda que por escrito, seja mais fácil de te falar.


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