Minha vida são rascunhos que mostro para Bruna

Usei umas três formas de me afastar. Mantive o foco na pós-graduação e nas datas a vencer por exatos dezenove dias. Mas na hora exata em que eu só queria observar as coisas sob uma perspectiva distorcida ou ficar quieta olhando a barba crescer no rosto da saudade, fui incompetente. Elas chegam e eu começo a procurar o bloco de notas como uma mãe procura seu filho perdido na praia. Bem nessas horas, a gente acredita que é escritor para não assumir que é doente. Inúmeras vezes tentei segurar as palavras olhando fixo a cena e mais uma vez afastando o resto. Porque tudo é cena. A gente se atreve em ser o enviado com a missão de explicar e, ainda por cima, acreditar que será lido, com qual velocidade uma senhora balança o pé na fila da lotérica. Quando, lá no fundo, fantasio que poeminhas podem adocicar o país e que o conto da senhora na fila da lotérica será analisado pela turma de literatura do ensino médio, eu volto pras planilhas. Porque poesia é ego travestido de bom moço a espera de ser referenciado no Instagram. Palavras chegam como assalto, levam a louça suja e a pontualidade nos compromissos, me deixa nervosa. Me entrego. Por isso, às vezes sumo. Se me perguntarem de novo, sobre o que escrevo, direi que é sobre a estrada. Sempre é mais fácil falar da amante passando a limpo as virgulas que pausam a vida. Uma vez me senti deus, em outras me senti foda, em raras, quase acredito que sou escritora. Mas na vida sem literatura, nessa, eu não acredito mesmo.

Comentários

Postagens mais visitadas