Telefone sem fio de olhares
Essa música ai. Senti até um aperto no peito
agora, igual quando cruzei o país pra te conhecer. Depois que tudo desse certo,
essa era a música que eu tinha ensaiado pra tocar contigo. Deu certo, mas a voz
não saiu. Fisicamente minha voz saía pouco. Eu culpava a xila, culpava a beleza
da tua cidade que me deixava extasiada e introspectiva. Mas não sei. Ao
telefone a gente falava dos mistérios dos céus e da tua mãe. Juntos, éramos um
telefone sem fio de olhares. Apesar de tu me culpar pelo silêncio, tu preenchia ele com gargalhadas desesperadas que
também me faziam rir, ai eu soltava um “ai, ai...” Em vários dias em que
acordei mais cedo e fiquei te observando, a vontade de encher uma xícara de
café e colocar do lado dos teus óculos era substituída pela vontade de te
ligar. Só pra tu ver como eu me retorcia quando tu me acordava à distancia.
Depois da transa matinal e dos áudios convertidos em arrepios ao pé do ouvido,
eu voltava a me sentir uma criança, te seguindo pela casa nova, no bar e
conhecendo os teus amigos. O que mais no uniu intimamente foi a música. Mesmo
com nossas vozes de trovão incapazes de fazer um falsete, teus dois acordes e a
minha memória ruim pra tocar uma música inteira, foi pela música que a gente
falou, desistiu, riu, cantou alto e fez capelas baixinhas de Bruno e Marrone
olhando do alto a cruz da igreja católica e, talvez, tenha sido por causa da
música que as minhas malas sempre estavam dispostas a te encontrar.
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